Mergulho

Desde muito cedo, entendi que usaria minhas mãos para criar.

Me encantavam os universos que rompiam com o lugar-comum, atraída pelas possibilidades ilimitadas de moldar um mundo meu, com todo o transbordamento que fosse possível. Sendo criada e educada em uma redoma de mulheres de potências ímpares e vaidades diferenciadas, a indumentária e seus processos detalhadamente ricos, me tiravam o fôlego desde que me entendo por gente.   

Sinto que praticamente nasci com a ourivesaria em mim, e ela me levou a mergulhos profundos. 

Desenvolvo acessórios desde criança. 

Aos seis, fazia aula de confecção de bijuterias, lugar onde descobri as técnicas de montagem, as possibilidades cromáticas de combinações, de texturas e construções.

Já adolescente, me deliciava fazendo adereços de carnaval para a minha mãe e amigas. Mais tarde, avancei para a criação de adereços, figurinos, produção de arte para teatro, moda, televisão e cinema. O encantamento e intimidade com alguns processos manuais foram sempre tão simbólicos, que logo entendi que minha escolha acadêmica e profissão seguiria esse mesmo roteiro. 

O desejo de dar forma a uma forma de mundo por meio dos metais fundidos foi, então, se estruturando junto às bases do meu corpo.

Foi um caminho natural me formar em Design de Produto na PUC-Rio e me especializar em ourivesaria no Ateliê Mourão, atelier de joalheria contemporânea carioca sob a orientação de minha mentora e grande mestra da ourivesaria, Paula Mourão. Para além dessas grandes escolas, o mundo do design está constantemente se descortinando em referências que me encantam, desde os acessórios de Line Vautrin, os móbiles de Calder, as obras de Richard Serra, até as primeiras fotografias de minha avó Marisa em sua adolescência em Maceió. As referências estéticas que vieram através da família, inclusive, sempre foram a maior das poesias para mim. 

O nome A CLANDESTINA apareceu em sonho, sendo um convite para observar minha participação nas histórias onde eu ainda não existia, mas moravam dentro de mim. 

É sobre ser uma alma intensamente curiosa, dentro de seu próprio mundo, constantemente. Como uma turista em sua própria cidade, ou uma escritora que revisita seus diários. 

Na minha primeira bancada em 2014 – na época, dentro do meu quarto e depois na área de casa – conheci um universo amplo de possibilidades de criação com o metal caminhando junto a essa profissão milenar, uma das primeiras registradas pela sociedade. 

​Com o tempo, veio a vontade de partilhar as composições. O sonho se materializou em 2016, quando criei raízes o suficiente para crer que a CLÑ pudesse voar pelo mundo.

​Fundar uma marca de jóias é também minha forma de reconhecer a intensidade elas que carregam. Faço e refaço esse gesto: coloco em cada peça a força que me conduziu à elas. Busco traduzir em meus anéis, brincos, colares e braceletes esse arrebatamento que desafia as perspectivas óbvias, com ousadia, mas sempre me atendo à simplicidade que permite que as peças atravessem o tempo. Minha pesquisa se entrelaça ao objeto que propõe uma permanência, uma idéia de perpetuidade. Me interessam peças que acompanhem a nossa jornada, e depois, ainda possam estar presentes na trajetória de outras gerações. Afinal, o metal precioso cumpre – conceitualmente e materialmente – esse papel com maestria quando cuidado e acolhido por nossas rotinas.

Respeitosamente encaro os adornos como objetos essenciais de representação de nossa personalidade, posicionamento, beleza e por que não, proteção. São uma companhia constante para seguirmos pelos mais diversos caminhos. Grandes, pequenos, foscos, brilhosos, pesados e leves, esses parceiros trilham conosco as nossas histórias, por anos, décadas. São lembranças de momentos felizes, grandes amores, saudades, lembranças.

É nesse campo que me interessa que a CLÑ atue: no que é único e pessoal. 

Por isso, grande parte da produção é voltada para joias personalizadas. À quatro mãos, as minhas e as do cliente, construímos peças que abarquem os desejos e demandas pensados para a jóia.

Para me conectar com sonhos daqueles que se interessam pelo nosso trabalho, mesclo materiais – tecido com pedras brutas, cristais em lapidações inesperadas, banhos variados – e experimento processos diferentes de materialização do projeto. Assim, cada peça traz consigo seu brilho raro e fazemos da marca esse bureau incansável de experimentações, mas sem perder de vista o compromisso que cada jóia seja eco-consciente, tendo a biônica como nossa essência. 

Acredito numa lógica de consumo sem frenesi, sem desperdício, por isso a beleza precisa existir por um viés sustentável, porque essa é uma das maiores responsabilidades da CLÑ. Nossa rotina de reciclagem e de reaproveitamento de materiais é um trabalho cuidadoso, que transforma descartes em novos estudos e peças, sempre de maneira a preservar a qualidade e pureza do produto final, reduzir o desperdício e reafirmar o nosso compromisso com a causa ambiental.

​Forjar – para além do metal –  é uma costura minuciosa de detalhes, e isso se manifesta em todo o processo produtivo, da criação à embalagem, o material gráfico feito a mão também por artesãos do design, da serigrafia, da costura e da fotografia. As jóias da CLN são desenvolvidas do começo ao fim por mim, juntamente com minha talentosa equipe de ourives, cravadores e modelistas do mercado carioca de joalheria, profissionais com mais de 50 anos de experiência no ofício. Um trabalho coletivo e sempre atento à avaliação dos clientes, sempre identificando onde podemos melhorar tanto nos produtos, quanto no processo de criação.

Espero que amem a nova experiência na A CLANDESTINA.

Boa Viagem, 

Amine Chalita